sábado, 10 de maio de 2025

Você é humano! Descanse.



Texto-base (Gênesis 2:3, ARA)

“E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.”


1. Exegese do Texto Original

Palavra-chave: "descansou" (שָׁבַת – shabat)

O verbo hebraico shabat significa literalmente "cessar", "parar", "interromper uma atividade". Não implica cansaço, mas sim uma conclusão deliberada de um trabalho.

  • Não significa que Deus se fatigou, pois isso contradiz a doutrina da Sua onipotência.
  • Em outras passagens, como Isaías 40:28, fica claro:

    “Não se cansa nem se fatiga o Senhor, não há quem esquadrinhe o seu entendimento.”

Assim, "descansou" aqui é melhor entendido como cessação ativa e proposital da criação, não como recuperação física.


2. Teologia Bíblica e Sistemática

Deus não se cansa

  • Como Ser infinito e eterno, Deus não possui limitações físicas.
  • O descanso de Deus não é uma necessidade fisiológica, mas um ato pedagógico, uma comunicação divina para o ser humano.

Santificação do tempo

  • O foco está no dia, não no "cansaço" de Deus.
  • Deus abençoa e santifica o sétimo dia como um marco temporal, um ciclo que aponta para ordem, ritmo e santidade.
  • Isso fundamenta o sábado na criação, antes da Lei mosaica (Êxodo 20:8-11), mostrando que o princípio do descanso é universal e espiritual, não apenas ritual.

3. Reflexão Espiritual e Aplicação

O descanso como modelo divino

Deus cria por seis dias e para no sétimo — não por necessidade, mas para:

  1. Estabelecer um ritmo de vida para o ser humano.
    Deus ensina que a vida não é só produção; é também contemplação, comunhão e adoração.

  2. Valorizar o tempo de santidade.
    Ele santifica o dia, não o local. Antes do templo, altar ou sacerdócio, Deus santificou o tempo.

  3. Revelar um princípio eterno.
    O descanso sabático aponta para o descanso escatológico em Cristo (Hebreus 4:9-11), onde o homem entra no verdadeiro shabat — descanso da salvação.


4. O descanso de Deus como símbolo messiânico

O descanso no sétimo dia prefigura o descanso redentor em Cristo:

  • Em João 19:30, Jesus diz: “Está consumado” — indicando que sua obra de redenção foi concluída.
  • Assim como Deus cessou a criação no sétimo dia, Cristo cessa a obra da redenção e entra no “descanso” de sua missão.
  • Hebreus 4 conecta esse descanso à salvação, dizendo que há um "repouso sabático" para o povo de Deus.

Conclusão: Deus descansou como Criador, não como quem se cansa.

  • Seu descanso foi expositivo e simbólico, não por necessidade.
  • Ele ensina, por meio do descanso, que a criação é boa, completa e digna de ser contemplada.
  • E convida o ser humano a participar de um ritmo divino de vida, que alterna trabalho e descanso em harmonia com o propósito eterno.


sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Maior no Reino dos Céus



Estudo Completo de João 13:14 (ARA)

Versículo:

"Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros."


1. Contexto Histórico e Cultural

  • Lavagem dos pés era um costume comum no Oriente Médio antigo. As pessoas andavam em ruas de terra com sandálias, e ao chegar em uma casa, um servo lavava os pés dos visitantes.
  • Esse serviço era considerado tarefa de um servo ou escravo, nunca de alguém em posição de honra.
  • No cenário da última ceia (João 13:1-17), Jesus realiza esse ato com profundo significado espiritual e pedagógico.

2. Contexto Imediato (João 13:1-17)

  • João 13 marca o início dos capítulos que tratam dos últimos momentos de Jesus com seus discípulos antes da crucificação.
  • Jesus, sabendo que Sua hora havia chegado (v.1), realiza um gesto simbólico de amor e serviço.
  • Ele lava os pés dos discípulos, inclusive os de Judas (v.11), e depois os instrui sobre o significado desse ato:
    • Não é apenas higiene, mas um exemplo de humildade.
    • Ele deixa claro: "deem o exemplo uns aos outros" (v.15).

3. Significado Teológico

  • Cristologia: Jesus é Senhor e Mestre, mas se humilha voluntariamente para servir. Isso revela a natureza divina expressa no serviço e no amor sacrificial.
  • Discipulado: Jesus forma líderes que servem. A verdadeira grandeza no Reino de Deus não é autoridade, mas humildade.
  • Santificação: A lavagem também aponta para a purificação espiritual (v.10: “quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés”).

4. Aplicação Prática

  • Humildade: Jesus ensina a abrir mão do orgulho e da posição social para cuidar dos outros.
  • Serviço ativo: O cristão deve agir, não apenas falar. A fé se traduz em atitudes concretas de cuidado.
  • Liderança: Líderes espirituais devem dar o exemplo em humildade e serviço, não exigir posição ou honra.
  • Comunidade cristã: Cada membro deve estar disposto a servir ao outro, especialmente nas pequenas coisas.

5. Conexões com Outras Passagens

  • Mateus 20:26-28 – “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será vosso servo... assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir.”
  • Filipenses 2:5-8 – Cristo, mesmo sendo Deus, “se esvaziou a si mesmo” e assumiu forma de servo.
  • 1 Pedro 5:5 – “Revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros...”

6. Reflexão Final

Jesus transforma um gesto comum em uma lição eterna:

“O serviço humilde é o maior sinal de amor.”

O maior na perspectiva do mundo é o que manda; no Reino de Deus, é o que serve.



quinta-feira, 8 de maio de 2025

Esqueça o que passou


EXEGESE DE ISAÍAS 43:18-19 (ARA)

Contexto histórico e literário

Isaías 43 faz parte da chamada segunda parte do livro de Isaías (capítulos 40–55), conhecida como "Livro da Consolação" ou "Segundo Isaías", voltada para os judeus exilados na Babilônia (século VI a.C.). Nesse período, o povo estava oprimido, desanimado, e muitos achavam que Deus os havia abandonado.

Nos capítulos anteriores (Isaías 40–42), Deus promete consolo, redenção e libertação. Isaías 43 reforça esse consolo, mostrando que Deus continua sendo o Redentor de Israel, aquele que chama pelo nome, o Criador e Salvador.


Análise versículo por versículo

Versículo 18: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas.”

  • Verbo hebraico “zakar” (lembrar): implica não apenas memória, mas dar atenção ativa a algo.
  • Aqui, Deus está dizendo: “Parem de viver presos ao passado” — tanto os erros de Israel quanto os feitos antigos de Deus (como o Êxodo).
  • O objetivo é desprender-se da antiga maneira de ver Deus e a vida. O que Ele fará agora é inédito, diferente do que foi feito antes.

Versículo 19: “Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo.”

  • A “coisa nova” refere-se à redenção do exílio da Babilônia, mas também antecipa a redenção messiânica.
  • “Está saindo à luz” indica que Deus já começou a agir, ainda que não seja evidente aos olhos humanos.
  • O “caminho no deserto” remete ao Êxodo (quando Deus abriu caminho no mar), mas agora Ele abrirá um caminho no meio da aridez e do desespero.
  • “Rios no ermo” simbolizam provisão, vida e graça em meio ao sofrimento.

Tem a ver com perdão?

Sim, de forma implícita. Eis como:

  1. Redenção e restauração só são possíveis quando há perdão.
    Isaías 43:25, alguns versículos adiante, é direto:

    “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.”

    Isso conecta com o v.18: Deus escolhe não lembrar mais do pecado — isso é perdão ativo, não amnésia. Ele está oferecendo uma nova chance ao povo.

  2. Deixar o passado inclui deixar de lado culpas e pecados.
    O chamado para “não lembrar as coisas passadas” também é para não se aprisionar aos próprios pecados, porque Deus está fazendo algo novoperdoando, renovando, reconstruindo.

  3. É um convite a confiar na graça e não no merecimento.
    Israel falhou, quebrou a aliança, foi disciplinado com o exílio. Mas Deus, em sua graça soberana, oferece perdão e libertação, sem que o povo mereça.


Aplicações espirituais e práticas

  • Para quem errou: Deus não apenas perdoa, como também cria um futuro novo, mesmo que o “solo” seja deserto.
  • Para quem está no exílio emocional ou espiritual: Deus não te abandonou; Ele está abrindo caminho onde parecia não haver solução.
  • Para quem quer recomeçar: Esse texto é um manifesto divino de recomeço, onde o perdão é o alicerce da novidade de vida.

Conclusão:

Isaías 43:18-19 não fala diretamente sobre perdão, mas está inserido num contexto onde o perdão é a base da restauração. Deus convida o povo a deixar o passado, acreditar no novo e seguir o caminho que Ele está abrindo, mesmo que antes tudo parecesse perdido.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

O Senhor Reinará Unânime

"O Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o Senhor, e um só será o seu nome."
( Zacarias 14:9)

1. Contexto Histórico e Literário

Autor e período:
Zacarias foi um profeta pós-exílico, ativo entre 520 e 518 a.C., contemporâneo de Ageu. Sua missão era encorajar a reconstrução do Templo após o exílio babilônico e reacender a esperança messiânica.

Capítulo 14 em resumo:
É um dos capítulos mais escatológicos do Antigo Testamento. Fala do “Dia do Senhor”, quando Deus intervirá poderosamente na história, julgando as nações que atacaram Jerusalém, trazendo restauração a Seu povo, e reinando diretamente sobre toda a terra.

2. Exegese do Versículo (Análise palavra por palavra)

"O Senhor será Rei sobre toda a terra"

YHWH será Rei: O termo "Rei" (melek) implica soberania política e espiritual total. Este é um eco da expectativa messiânica e do Reino de Deus.

"Sobre toda a terra" (hebr. kol ha'aretz): Alude à universalidade do governo divino, não apenas sobre Israel, mas sobre todas as nações — algo escatológico, pois ainda não se realizou completamente na história humana.

"Naquele dia"

Expressão escatológica usada com frequência pelos profetas para se referir ao tempo da intervenção final e definitiva de Deus na história.

Remete ao "Dia do Senhor", um período de juízo e restauração.

"Um só será o Senhor, e um só será o seu nome"

Monoteísmo pleno e reconhecido: Não se trata apenas da realidade teológica de um só Deus (já crida por Israel), mas da aceitação universal desse Deus como único soberano.

"Seu nome" simboliza Sua natureza e autoridade. A multiplicidade de deuses e cultos será abolida — será um culto único e verdadeiro.

3. Aspectos Teológicos

Monoteísmo universalizado

Esta passagem aponta para o clímax do plano de Deus, em que o monoteísmo bíblico será universalmente reconhecido.

Contrasta com o politeísmo das nações e até mesmo com a idolatria que contaminou Israel em vários momentos.
Reinado de Deus

O reinado mencionado aqui é teocrático e messiânico. Embora Deus já seja soberano, esse reinado se tornará visível, direto e incontestável.

4. Escatologia (Futura realização profética)

Perspectiva judaica

Muitos judeus veem Zacarias 14 como uma profecia messiânica futura, ainda por se cumprir com a vinda do Messias que estabelecerá o reinado de Deus em Jerusalém.

Perspectiva cristã

Os cristãos entendem esse reinado como parcialmente inaugurado com Cristo (Lucas 17:21; João 18:36), mas aguardam sua plena manifestação no retorno de Jesus (Apocalipse 11:15).

Esse versículo ecoa Apocalipse 21:3 ("Eis o tabernáculo de Deus com os homens") e Apocalipse 22:3–4 (onde o nome de Deus está nas testas dos servos).

Teologia do Reino

Teólogos chamam essa tensão de “já e ainda não” do Reino de Deus: já começou com Cristo, mas ainda aguarda consumação.

Zacarias 14:9 aponta para a consumação escatológica — onde não haverá mais rebelião, dúvida ou pluralidade religiosa.

5. Aplicações práticas e espirituais

Esperança: Esse versículo fortalece a fé na soberania de Deus diante da aparente confusão política e espiritual do mundo atual.

Missão: Inspira a Igreja a proclamar o Evangelho, já que o fim aponta para a adoração de um só Deus por todas as nações.

Adoração: Revela o propósito último de Deus: ser adorado como o único Deus verdadeiro.

1. Comparação com o Hebraico Original e a Septuaginta (LXX)

Texto Hebraico (Zacarias 14:9)

> וְהָיָה יְהוָה לְמֶלֶךְ עַל־כָּל־הָאָרֶץ בַּיּוֹם הַהוּא יִהְיֶה יְהוָה אֶחָד וּשְׁמוֹ אֶחָד

Transliteração:

> Ve-hayah YHWH le-melekh al kol ha-aretz; bayom hahu yihyeh YHWH echad u-shemo echad

Tradução literal do Hebraico:

“E será o SENHOR rei sobre toda a terra; naquele dia, o SENHOR será um, e seu nome um.” (Zacarias 14:9)

Notas exegéticas:

"YHWH echad": "O Senhor é um" — eco direto de Deuteronômio 6:4 ("Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor"), mostrando unidade e exclusividade absoluta.

"Shemo echad": “Seu nome será um” — implicando reconhecimento universal do verdadeiro caráter de Deus, em contraste com os muitos “nomes” (deuses) adorados pelas nações.

Texto na Septuaginta (LXX – grego)

> καὶ ἔσται Κύριος βασιλεὺς ἐπὶ πάσαν τὴν γῆν· ἐν ἐκείνῃ τῇ ἡμέρᾳ ἔσται Κύριος εἷς, καὶ τὸ ὄνομα αὐτοῦ ἕν.

Tradução grega literal:

“E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia, o Senhor será um, e o seu nome um.” (Zacarias 14:9)

Nota: A Septuaginta mantém fidelidade ao hebraico original. O uso de “εἷς” (heis) e “ἕν” (hen) reforça a unidade de essência e identidade divina. O grego clarifica a ideia de unicidade absoluta, algo central na escatologia bíblica.

2. Estudo Tipológico – Cristo como o Rei

Zacarias 14:9 encontra paralelo direto na teologia cristã da realeza messiânica de Jesus:

Tipologia e cumprimento em Jesus:

Elemento Zacarias Cumprimento em Cristo

Rei sobre toda a terra Zac 14:9 Apoc. 19:16 – “Rei dos reis e Senhor dos senhores”
Um só Senhor Zac 14:9 João 10:30 – “Eu e o Pai somos um”
Seu nome um Zac 14:9 Filipenses 2:9-11 – “Ao nome de Jesus se dobrará todo joelho”

Ligação com outras profecias:

Salmo 2:6-9: O Messias como rei sobre as nações.

Daniel 7:13-14: Filho do Homem recebendo domínio eterno.

Apocalipse 11:15: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.”

Jesus é, portanto, o cumprimento escatológico da realeza profetizada por Zacarias, tanto em sentido espiritual agora, quanto físico/final na consumação.

3. Mapa Escatológico do "Dia do Senhor" (com base em Zacarias 14)

Zacarias 14 descreve eventos escatológicos que envolvem juízo, batalha, manifestação divina e restauração, que podem ser organizados da seguinte forma:

Mapa dos eventos de Zacarias 14:

1. Ataque a Jerusalém (v.1-2)

Nações se reúnem contra Jerusalém.

Cidade parcialmente invadida.

2. Intervenção do Senhor (v.3-5)

Deus luta contra as nações.

Monte das Oliveiras se fende (símbolo de manifestação divina – cf. Atos 1:11).

Fuga do povo.

3. Manifestações cósmicas (v.6-7)

Mudança na luz natural (possível linguagem apocalíptica).

4. Água viva de Jerusalém (v.8)

Fluxo de bênção e restauração — possível símbolo do Espírito Santo ou da vida eterna.

5. Reinado do Senhor sobre toda a terra (v.9)

Cumprimento do Reino universal.

6. Santidade plena (v.20-21)

Tudo consagrado ao Senhor: culto purificado, idolatria eliminada.

Conclusão Final

Zacarias 14:9 é o clímax de uma visão escatológica poderosa:

O único Deus será reconhecido e adorado universalmente.

Cristo, como Rei e Senhor, cumprirá essa promessa, estabelecendo um Reino visível e eterno.

É uma profecia que unifica Antigo e Novo Testamento e aponta para a restauração final de toda a criação sob a autoridade de Deus.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Porque está abatida ó minha alma?

"Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu."
(Salmos 42:11 - Almeida Revista e Atualizada)

Exegese e análise contextual:

1. Gênero literário e autoria:

O Salmo 42, junto com o 43, é considerado um único salmo em alguns manuscritos antigos e pertence ao segundo livro dos Salmos (Salmos 42–72). É atribuído aos "filhos de Corá", um grupo de levitas que cuidava da música no templo. Trata-se de um salmo de lamento, com fortes elementos de oração pessoal e clamor emocional.

2. Estrutura e paralelismo poético:

Este versículo é um refrão repetido (aparece também no verso 5 e em 43:5), formando o centro temático do salmo. É construído com paralelismo sinônimo e progressivo, onde a alma dialoga consigo mesma, numa luta interna entre angústia emocional e fé consciente.

3. Análise das palavras-chave (hebraico):

"abatida" (שָׁחַח - shakhach): denota estar curvado, prostrado, deprimido. A alma está oprimida emocionalmente, como se estivesse espiritualmente em colapso.

"perturbas" (הָמָה - hamah): significa estar tumultuada, barulhenta, inquieta. Reflete um estado de ansiedade ou conflito interno.

"espera em Deus" (יָחַל - yachal): verbo que implica esperança ativa e perseverante, não uma espera passiva. É confiar enquanto aguarda, mesmo sem ver solução.

"ainda o louvarei" (אוֹדוּ - odenu): forma verbal que aponta para o futuro. O salmista declara pela fé que voltará a louvar, mesmo que agora esteja em silêncio e dor.

"meu auxílio" (יְשׁוּעָה - yeshuah): literalmente “salvação” ou “libertação”. Aponta para Deus como aquele que salva em tempos de desespero.

Reflexão teológica:

Esse versículo é um retrato da realidade humana diante do sofrimento: uma alma abatida e perturbada tenta encontrar firmeza em Deus. O salmista não nega sua dor, mas também não a deixa dominar sua fé. Ele escolhe esperar e confiar.

Isso nos ensina que a fé bíblica é racional e emocional, mas também volitiva — envolve o querer. Mesmo quando a alma está em caos, é possível comandar a si mesmo: "Espera em Deus!" É como se o salmista fosse terapeuta de si mesmo, ordenando à sua alma que confie em Deus até que o louvor volte a brotar.

A profundidade dessa oração revela que a verdadeira espiritualidade não está em negar a tristeza, mas em saber onde depositá-la: no Deus que salva e sustenta.

Aplicação prática:

Quando enfrentamos crises emocionais, espirituais ou existenciais, podemos aprender com o salmista a:

1. Reconhecer nossas emoções com honestidade (abatimento e perturbação).


2. Dialogar com a alma em vez de apenas seguir seus impulsos.


3. Exercitar fé proativa, esperando em Deus mesmo sem ver resposta imediata.


4. Lembrar que o louvor voltará — porque Deus permanece sendo o auxílio e Salvador. 

Maior é aquele que está em vós!

1 João 4:4 (ARA):

"Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo."

Esse versículo faz parte de uma seção onde o apóstolo João orienta os cristãos a discernirem os espíritos (1Jo 4:1-6). Ele alerta sobre os falsos profetas que negam que Jesus veio em carne — um ataque direto ao ensino gnóstico da época, que separava espírito e matéria, negando a encarnação.

João está escrevendo para igrejas que enfrentavam heresias internas. Ao chamá-los de "filhinhos", ele reafirma o tom pastoral e carinhoso, lembrando-os de sua identidade espiritual.

  • “Filhinhos” (τεκνία / teknía):
    Um termo grego afetuoso, diminutivo de “filhos”, usado por João para se referir aos crentes com ternura e autoridade espiritual, como um pai ensinando seus filhos. 

  • “Sois de Deus” (ἐκ τοῦ Θεοῦ ἐστε):
    Indica a origem espiritual dos crentes — eles pertencem a Deus, nasceram Dele, e isso define sua identidade e fonte de poder.

  • “Tendes vencido” (νενικήκατε / nenikēkate):
    Verbo no perfeito grego: ação passada com efeitos contínuos. Isso significa que a vitória sobre os falsos profetas já foi conquistada e seus efeitos ainda estão em vigor. A vitória não é futura, mas uma realidade presente por meio de Cristo.

  • “Maior é aquele que está em vós”
    Refere-se ao Espírito Santo, a presença ativa de Deus habitando no crente.

  • “do que aquele que está no mundo”
    Refere-se ao espírito do anticristo, à influência de Satanás e do sistema mundano contrário a Deus.

  • Vitória espiritual não depende de força humana, mas da habitação de Deus em nós.
    A presença de Deus no crente (por meio do Espírito Santo) é superior em autoridade, poder e verdade a qualquer influência maligna do mundo. Não é uma comparação entre forças iguais — é um contraste entre o Criador e a criação caída.

  • Discernimento é um sinal de maturidade espiritual.
    A capacidade de reconhecer e rejeitar falsos ensinamentos é um fruto da permanência em Deus. Os crentes vencem porque têm o Espírito da verdade (1Jo 4:6).

  • Segurança espiritual em tempos de confusão.
    João oferece consolo e firmeza: em meio a vozes enganosas, os filhos de Deus têm dentro de si a voz maior — o Espírito de Cristo. Por isso, não precisam temer o engano, mas permanecer na verdade.

Conexões Bíblicas

  • João 16:33 – "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo."
  • Romanos 8:37 – “Em todas estas coisas somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou.”
  • Efésios 6:10-18 – A armadura de Deus nos dá força para resistir às astutas ciladas do diabo.

1 João 4:4 nos lembra que o poder da verdade e do Espírito de Deus em nós supera qualquer sistema maligno externo. Isso não é apenas um conforto, mas uma chamada à vigilância, confiança e fidelidade. Não devemos nos amedrontar com as pressões e falsidades do mundo, pois o Espírito que habita em nós nos equipa para discernir, resistir e vencer.

domingo, 4 de maio de 2025

Estudo Apologético: Refutação da Reencarnação com Base Bíblica

1. Introdução

A doutrina da reencarnação é central no Espiritismo, mas é estranha às Escrituras Sagradas. Este estudo tem como objetivo apresentar, com base bíblica, uma refutação clara e coerente da ideia de reencarnação, especialmente quanto à interpretação de que Elias teria reencarnado como João Batista.

2. Refutando Mateus 11:14

"E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir."

Resposta bíblica:

Lucas 1:17 esclarece: "E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias".

João Batista não era Elias reencarnado, mas veio com uma missão semelhante. Ou seja, o versículo 17 de Lucas 1 explica que João Batista iria preparar o caminho de Jesus com o mesmo poder de Elias e não como Elias.

João 1:21: "És tu Elias? [...] E disse: Não sou."

João Batista nega ser Elias, eliminando a possibilidade de identidade literal ou reencarnatória.

3. Refutando João 3:3-6

"Necessário vos é nascer de novo."

Resposta bíblica:

Jesus explica: "nascer da água e do Espírito" (v.5).

Trata-se do novo nascimento espiritual, não de reencarnação física.

"O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito." (v.6)

Isso diferencia claramente o nascimento biológico do renascimento espiritual.

4. Refutando João 9:1-3

"Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?"

Resposta bíblica:

Jesus responde: "Nem ele pecou nem seus pais, mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus."

Jesus corrige a suposição errada dos discípulos. Essa pergunta dos discípulos mostra as falsas crenças da época, que não devemos tomar como verdadeiras e que Jesus imediatamente corrigiu, como vemos na resposta de Jesus em João 9:3.

Não há aquí base para vidas passadas.

5. Refutando a interpretação do arrebatamento de Elias (2 Reis 2:11)

"Elias subiu ao céu num redemoinho."

Resposta bíblica:

Elias foi arrebatado vivo, não morreu. Para que reencarne, precisa desencarnar é uma questão de lógica no Espiritismo, porque no caso de Elias e João Batista querem dar um jeito de abrir uma exceção e distorcer o que a bíblia diz, dizendo que Elias morreu quando foi arrebatado? Sendo que a Bíblia diz claramente que ele não morreu e sim subiu ao céu!

Marcos 9:4: Elias aparece na transfiguração com Moisés após a morte de João Batista.

Se Elias fosse João, não poderia aparecer como Elias depois. Afinal se ele reencarnou como João Batista, agora teria que ser João Batista, mais uma vez os Espíritas distorcem a lógica deles para distorcer os fatos Bíblicos, afim de tentar provar sua crença. 

6. Hebreus 9:27 — O argumento final

 "Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo."

Refuta de forma direta a ideia de várias vidas. 

**Um estudo apologético é uma abordagem de estudo voltada para a defesa racional da fé, especialmente no contexto religioso. A palavra “apologética” vem do grego apologia, que significa “defesa” ou “resposta”. Esse tipo de estudo é muito comum no cristianismo, mas também existe em outras religiões e filosofias. No contexto cristão, por exemplo, a apologética cristã busca apresentar argumentos lógicos, históricos, filosóficos e teológicos para:
Confirmar a existência de Deus;
Defender a veracidade da Bíblia;
Sustentar a fé cristã frente a críticas, dúvidas ou outras crenças;
Explicar e justificar as doutrinas centrais do cristianismo. Ela pode ser usada tanto para fortalecer a fé dos crentes quanto para dialogar com pessoas de fora da religião.


Se você está sofrendo é porque está em pecado! Será?

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