EXEGESE DE ISAÍAS 43:18-19 (ARA)
Contexto histórico e literário
Isaías 43 faz parte da chamada segunda parte do livro de Isaías (capítulos 40–55), conhecida como "Livro da Consolação" ou "Segundo Isaías", voltada para os judeus exilados na Babilônia (século VI a.C.). Nesse período, o povo estava oprimido, desanimado, e muitos achavam que Deus os havia abandonado.
Nos capítulos anteriores (Isaías 40–42), Deus promete consolo, redenção e libertação. Isaías 43 reforça esse consolo, mostrando que Deus continua sendo o Redentor de Israel, aquele que chama pelo nome, o Criador e Salvador.
Análise versículo por versículo
Versículo 18: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas.”
- Verbo hebraico “zakar” (lembrar): implica não apenas memória, mas dar atenção ativa a algo.
- Aqui, Deus está dizendo: “Parem de viver presos ao passado” — tanto os erros de Israel quanto os feitos antigos de Deus (como o Êxodo).
- O objetivo é desprender-se da antiga maneira de ver Deus e a vida. O que Ele fará agora é inédito, diferente do que foi feito antes.
Versículo 19: “Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo.”
- A “coisa nova” refere-se à redenção do exílio da Babilônia, mas também antecipa a redenção messiânica.
- “Está saindo à luz” indica que Deus já começou a agir, ainda que não seja evidente aos olhos humanos.
- O “caminho no deserto” remete ao Êxodo (quando Deus abriu caminho no mar), mas agora Ele abrirá um caminho no meio da aridez e do desespero.
- “Rios no ermo” simbolizam provisão, vida e graça em meio ao sofrimento.
Tem a ver com perdão?
Sim, de forma implícita. Eis como:
-
Redenção e restauração só são possíveis quando há perdão.
Isaías 43:25, alguns versículos adiante, é direto:“Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.”
Isso conecta com o v.18: Deus escolhe não lembrar mais do pecado — isso é perdão ativo, não amnésia. Ele está oferecendo uma nova chance ao povo.
-
Deixar o passado inclui deixar de lado culpas e pecados.
O chamado para “não lembrar as coisas passadas” também é para não se aprisionar aos próprios pecados, porque Deus está fazendo algo novo — perdoando, renovando, reconstruindo. -
É um convite a confiar na graça e não no merecimento.
Israel falhou, quebrou a aliança, foi disciplinado com o exílio. Mas Deus, em sua graça soberana, oferece perdão e libertação, sem que o povo mereça.
Aplicações espirituais e práticas
- Para quem errou: Deus não apenas perdoa, como também cria um futuro novo, mesmo que o “solo” seja deserto.
- Para quem está no exílio emocional ou espiritual: Deus não te abandonou; Ele está abrindo caminho onde parecia não haver solução.
- Para quem quer recomeçar: Esse texto é um manifesto divino de recomeço, onde o perdão é o alicerce da novidade de vida.
Conclusão:
Isaías 43:18-19 não fala diretamente sobre perdão, mas está inserido num contexto onde o perdão é a base da restauração. Deus convida o povo a deixar o passado, acreditar no novo e seguir o caminho que Ele está abrindo, mesmo que antes tudo parecesse perdido.